Um ano depois, menino vítima de bala perdida luta para a nova vida numa cadeira de rodas
O Jhon Henrique de Paula Oliveira é morador da Fazenda Rio Grande, tem 10 anos de idade e provavelmente não vai esquecer do dia 23 de fevereiro de 2015.
Nessa data, há pouco mais de um ano, ele estava saindo da escola quando foi surpreendido por uma troca de tiros na rua. Uma bala ricocheteou num muro e numa lata de lixo antes de atingí-lo na coluna, entre a nona e a décima vértebra, e se alojar em seu pulmão. Encaminhado ao Hospital do Trabalhador, em Curitiba, chegou a ficar 27 dias na UTI, passando por diversos procedimentos.
Começou ali um novo momento para ele, amigos e família, em especial para sua mãe Eliane, que o acompanha para onde for necessário, dividindo-se entre o próprio trabalho e os que têm com ele, que perdeu o movimento das pernas.
Uma das primeiras medidas que ela tomou, ao voltar para casa, foi procurar uma cadeira de rodas para o filho – no que foi atendida pelo Instituto Luiz Carlos Martins. O tratamento não parou desde então, e a Eliane conta que o período tem sido de muito aprendizado tanto para o pequeno quanto para ela, parentes e amigos.
A vida não para
Claro que algumas coisas nunca mudam. Não é por causa do ocorrido que o Jhon deixou de ser um menino ativo, inteligente, cheio de opiniões que está sempre disposto a dividir com os amigos e familiares.
Ele acabou de entrar na 5ª série do Ensino Fundamental. Gosta de matemática, talvez diferentemente da maioria das crianças. E também adora esportes. Chegou a treinar basquete durante o ano passado com uma equipe de cadeirantes, orientada por alunos e professores do curso de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR). No momento não há previsão de retorno dessa atividade, e ele procura outra modalidade que possa praticar, porque prefere o agito dos treinos aos tratamentos mais tradicionais.
Direitos dos deficientes
A Eliane acha que os direitos dos deficientes deveriam ser mais bem divulgados e, mais que isso, que deveriam valer sem que os parentes das pessoas portadoras de deficiência precisem brigar com os órgãos públicos para receber o que lhes é devido.
Muitas pessoas não sabem o que têm direito e, dessa forma, sequer procuram as autoridades. Por exemplo, foi por causa da luta que a família descobriu que o Jhon tem direito à isenção no transporte entre a Fazenda Rio Grande e Curitiba, para onde vem pelo menos duas vezes por semana, de ônibus de linha com a mãe. Nas segundas-feiras ele faz fisioterapia e nas sextas hidroterapia, ambas num Centro de Reabilitação localizado no bairro Cabral. O trajeto é longo, mas compensa.
E como a batalha não acabou, a Eliane sabe que ainda tem muito o que conquistar para garantir a cidadania do filho. A família aguarda há tempos que sejam liberados equipamentos necessários para o tratamento do Jhon, como uma tala, desde novembro de 2015, e o transporte do município da Fazenda Rio Grande nos horários que ele precise – e não na manhã, horário que a prefeitura e a secretaria de saúde oferecem a van, mas que ele não pode aproveitar porque está em aula.
A lição que a Eliane deixa é a do amor, da doação e da luta, que não pode parar.